Semana 11 - Texturas de pessoas, contornos de espaços

Sombras e luzes das pessoas através de texturas orgânicas. Espaço não-orgânico contornados. E quando me vi diante no espelho, lápis de cor.


Como as pessoas foram desenhadas sempre sentadas no mesmo lugar, escolhi um detalhe da pessoa para desenhar e entrelaçando com um espaço do exterior. A sensação de modelar o corpo através das texturas dá muito prazer, e diferenciar tecidos ou partes do corpo através do experimento de diferentes tipos de textura me faz estar mais atenta a como representar essa ou aquela textura da maneira mais fluída possível. Algodão, cabelo, lã, barba... tudo vira uma diferente textura. Mas tecidos e peles lisas no geral me parecem mais desafiadores de fazer usando textura, pois são... lisas (uma só linha já resolvia...).

O João disse ao ver o progresso, falou que notava no meu desenho muita "atenção mas também liberdade", pois eu fazia muito atentamente o pormenor, mas de repente decidia parar e fazia partes do espaço e não "terminava" a pessoa que estava desenhando. Engraçado que ele sempre fala que estou atenta, e estou mesmo. Fico feliz quando isso se reflete no desenho. O fato é que realmente não sabia como ia ficar o resultado final, mas busquei alguma coerência e consistência na hora de desenhar incluindo sempre uma parte do espaço que tocava a parte do corpo que escolhi (banco, cavalete, parede...) e busquei seguir isso para todas as pessoas, meio que foi uma regra criada na hora. Então quando se fala em liberdade, o resultado pode parecer "livre", mas não sei se isso é liberdade, é pensar demais na composição do desenho, ou outra coisa... de qualquer jeito, não foi feito como obrigação, mas segui o que achava que poderia dar um balanço ao papel e às pessoas. "um pouco disso, um pouco daquilo..." e assim ia indo. Tipo café com leite, sempre tem que ter um pouquinho de leite, às vezes também açucar, mas o café sempre tem que ter um pouquinho de leite. Mas se um dia não tiver, tudo bem, não vou morrer por causa disso.

Mesmo parecendo livre, Mas hoje foi um dia que "olhei" de longe o papel algumas vezes, para ir escolhendo onde faria a próxima pessoa. A última que desenhei fui eu mesma, e no início pensei em mudar a escala ou direção, mas como tinha um espaço em branco entre as pessoas então na hora de começar, acabei por usar esse espaço em branco e me desenhei na mesma escala. E ao me olhar, sabia que todos me olhavam, o que me dá uma certa ansiedade. E ao ir desenhando, principalmente pescoço e ombros, desenhei muito mais uma imagem mental do que o que eu realmente via. Depois ainda podíamos continuar fazendo outras pessoas, mas como já havia bastante volume no desenho, apenas adicionei alguns contornos do espaço à esquerda.

Aliás, lápis de cor não tem tanta precisão quanto o grafite, e a ponta sempre quebra quando desenho, deixando uma mancha, talvez to forçando muito... ou apontando muito o lápis. Sei lá, gosto dele extremamente fino quando vou fazer linha. Já virou um ritual apontar o lápis antes de começar a desenhar, e muitas outras vezes durante um desenho. É meio que uma micro-pausa do desenho. Tipo quando está meditando e se dá conta de que "está meditando" e volta à concentração. Talvez possa testar não apontar o lápis e ver se me deixo levar mais pelo embalo do traço preciso que se desfaz.

Ao ver o desenho terminado, lembrei muito da palestra do Michael Fried sobre o Manet, onde o falou sobre como ele pintava pessoas olhando para diferentes direções e senti que sem querer o fato de eu estar olhando para outra direção, acabou também contra-balanceando a composição e o foco do olhar, mesmo que tenha sido sem esta intenção. Maneeeeiro.

PS. 1: Hoje ia cortar o cabelo depois da aula, então escolhi detalhar ele pois ele já não está assim no momento que escrevo esse post. Mas continua com volume.

PS. 2: Uma frase do Spinoza que ouvi num podcast que falava da Marilena Chaui:


Decimos que un ser es libre cuando, por la necesidad interna de su esencia y
de su potencia, en él se identifican su manera de existir, de ser y de actuar. La libertad no es pues elección voluntaria ni ausencia de causa (o una acción sin causa); tampoco la necesidad es un mandamiento, ley o decreto externos que forzarían a un ser a existir y actuar de manera contraria a su esencia. 
Marilena Chaui em "La filosofía política moderna" 

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