Semana 12 - Modelo vivo


Manga do blusão cinza esfumaça o carvão que sombreava a modelo, que hoje ocupou a margem completa da folha (yeaaah dica valiosa do Artur, isso faz tanta diferença). 

Semana passada, que estava com a cabeça a mil, conversei com uma doutoranda sobre minhas angústias (típicas de alguém na TPM) na hora de desenhar. Uma das coisas que contei que me incomodava era o fato de me sentir presa ao "seguir proporções" e como gostaria de seguir um traço mais "livre" e baseado na observação mais pura e "sem regras renascentistas". Ao que ela me deu um conselho que no desenho de hoje percebi como muito importante: que a regra serve justamente para nos ajudar a construir o olhar puro. E acrescentou que essas "regras", são baseadas num preceito muito simples: a da busca por relações entre as formas do corpo. E uma vez se aprende a olhar para essas relações, que não são as tais meditas de 0 a 7 cabeças (ou outras regras do género matemático) e sim relacionar as formas e os vazios através de distâncias e linhas imaginárias. Ao aprender a perceber essas relações, o desenho começa a mais naturalmente.




Nesse desenho busquei essas tais relações, tentei resolver a forma base do corpo reparando em todos os espaços, um por um. Espaço que fica entre o braço e as costas, entre a batata da perna e pé direito, entre pescoço e cabeça... e fazendo linhas imaginárias que descem em vertical e horizontal, para entender onde está o centro, ou como é que o dedo do pé se relaciona com a cabeça da modelo, ou linhas horizontais que relacionam o peito com a dobra do cotovelo... 

Uma vez resolvi essas formas básicas de maneira "básica" (sei que podia ser muito mais precisa, mas foi um experimento), comecei a preencher de maneira menos hesitante mas devagar, reparando nas sombras e luzes. O preenchimento foi sendo feito de dentro para fora (do centro para a periferia), ou seja, do meio do braço para fora, do centro da barriga para as costas... E quando chegava num "limite", fiz o contorno. Tentei evitar fazer o contorno da sombra de trás pois ela já era bastante presente, e fiquei contente em não ter me deixado levar pela pressão de "ter tempo", quando anunciaram que faltavam alguns minutos para terminar a aula. Parece que nesse desenho consegui perceber bem os limites do corpo da modelo (e do meu), sem delimitá-los de forma tão clara, mas que está lá.

Não fiz isso com tanta cobrança como de costume, e sim como um teste, e acho que este foi o desenho resultou num dos meus favoritos desde que comecei a fazer modelo vivo na Belas Artes. 

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