Semana 14 - Auto-Retrato
Aula de desenho após aula de yoga (manhã). Além da concentração, já cheguei com energia.
De novo fiz um ritual com o aparo (pena), a queridinha que gosta de que tudo vá lentamente, que não acelere o traço para terminar... Amo a atenção que ele faz eu ter, o molhar na tinta, o pequeno risco de respingar, o tracinho mais carregado ou menos. Essa disciplina do aparo é como o exercício de yoga, que requer que as coisas sejam realmente feitas com mais lentidão, com uma certa asana (a postura e a posição da mão ao segurar o aparo e desenhar, a atenção para não derrubar gotas no papel, para molhar de maneira a ter tinta suficiente mas não excessiva) mas também com a respiração (para gerir na largura e espessura da linha o quanto de tinta vai ser usada, contar as linhas feitas uma a uma enquanto elas são desenhadas). E o mantra era esse ritual repetitivamente e o olhar no espelho e no papel. O "mantra" que decidi usar esse dia foi o de observar o olhar luzes e sombras, por partes. Só isso. Sem olhar para o todo imediatamente e sim para os escuros e claros...
Comecei do "centro" para fora, de baixo para cima e deixando a cabeça/corpo para o final. O fazer a blusa é como um aquecimento, não estou ainda muito fluida com o aparo até começar a fazer o corpo que sempre tem mais detalhes (apesar de que a blusa, por mais simples que era, tinha muitos nuances!). Fui fazendo primeiro a textura da blusa, lentamente olhando para ela a partir das luzes e sombras, sempre no detalhe. Deixei o que era mais claro em branco... mesmo que depois eu começava a ver que tinha brancos mais brancos, assim como sombras mais escuras. Conforme mais olhava, mais via essas sutilezas das luzes e sombras, parece que sempre havia algum novo contraste a ser visto, a ser ajustado. É realmente como quando faço uma postura e permaneço nela por umas respirações, pois só ficando nela um tempo é que começam a aparecerem detalhes novos no ajuste, no foco do olhar, na gestão da respiração etc.
Quando tinha já mais estruturada a blusa, fui para a mão, e acabei fazendo linhas mais curtas e na diagonal, para diferenciar um pouco da blusa e seguir o volume natural da pele, como se a pele não fosse reta.
Ao fazer a mão, voltei a subir. Fiz a boca e o nariz e parei para descansar. Nessa altura, quase não tinha olhado para o lado e visto os desenhos dos outros colegas. Fiquei "no meu mundo" que era a blusa e a mão, e um pouco do rosto...
Depois da pausa, veio o pensamento "será que vou conseguir fazer tanto detalhe no rosto quanto fiz na blusa e estar tão concentrada quanto antes?
Voltei para a cara, e me aventurei a fazer o meu olho, pelo menos um. O olho, comparando com todo o resto que tinha feito, era o detalhe mais "escuro", então fui fazendo pequenos tracinhos bem próximos uns dos outros. Mas no olho tem um ponto branco de luz que reflete, então teve uma parte menos escura. E depois notei que mesmo o globo do olho não é tão branco quanto outras partes desenhadas, então preenchi também isso. Ah, e olheiras... claro
Fui para o cabelo, e fiquei um bom tempo fazendo. O cabelo é cheio de volumes, mas mesmo nesse volume há luzes e sombras, e aí fica às vezes mais difícil de diferenciar com as curvas.
A aula estava terminando e não tinha feito o outro olho, então só sugeri um pouco os óculos que tinham sido ignorados até então, e fiz alguns contornos do ambiente (mas que talvez eram dispensáveis...).
Constatação é que de fato fico séria quando estou concentrada. Difícil fazer auto-retrato sorrindo pois pressupõe uma ação que não é natural naquele momento.
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