Semana 14 - Auto-Retrato

Me olhar devagar pelo espelho, em 16 de dezembro.

Aula de desenho após aula de yoga (manhã). Além da concentração, já cheguei com energia.

De novo fiz um ritual com o aparo (pena), a queridinha que gosta de que tudo vá lentamente, que não acelere o traço para terminar... Amo a atenção que ele faz eu ter, o molhar na tinta, o pequeno risco de respingar, o tracinho mais carregado ou menos. Essa disciplina do aparo é como o exercício de yoga, que requer que as coisas sejam realmente feitas com mais lentidão, com uma certa asana (a postura e a posição da mão ao segurar o aparo e desenhar, a atenção para não derrubar gotas no papel, para molhar de maneira a ter tinta suficiente mas não excessiva) mas também com a respiração (para gerir na largura e espessura da linha o quanto de tinta vai ser usada, contar as linhas feitas uma a uma enquanto elas são desenhadas). E o mantra era esse ritual repetitivamente e o olhar no espelho e no papel. O "mantra" que decidi usar esse dia foi o de observar o olhar luzes e sombras, por partes. Só isso. Sem olhar para o todo imediatamente e sim para os escuros e claros...

Comecei do "centro" para fora, de baixo para cima e deixando a cabeça/corpo para o final. O fazer a blusa é como um aquecimento, não estou ainda muito fluida com o aparo até começar a fazer o corpo que sempre tem mais detalhes (apesar de que a blusa, por mais simples que era, tinha muitos nuances!). Fui fazendo primeiro a textura da blusa, lentamente olhando para ela a partir das luzes e sombras, sempre no detalhe. Deixei o que era mais claro em branco... mesmo que depois eu começava a ver que tinha brancos mais brancos, assim como sombras mais escuras. Conforme mais olhava, mais via essas sutilezas das luzes e sombras, parece que sempre havia algum novo contraste a ser visto, a ser ajustado. É realmente como quando faço uma postura e permaneço nela por umas respirações, pois só ficando nela um tempo é que começam a aparecerem detalhes novos no ajuste, no foco do olhar, na gestão da respiração etc.

Quando tinha já mais estruturada a blusa, fui para a mão, e acabei fazendo linhas mais curtas e na diagonal, para diferenciar um pouco da blusa e seguir o volume natural da pele, como se a pele não fosse reta.

Ao fazer a mão, voltei a subir. Fiz a boca e o nariz e parei para descansar. Nessa altura, quase não tinha olhado para o lado e visto os desenhos dos outros colegas. Fiquei "no meu mundo" que era a blusa e a mão, e um pouco do rosto...

Depois da pausa, veio o pensamento "será que vou conseguir fazer tanto detalhe no rosto quanto fiz na blusa e estar tão concentrada quanto antes?

Voltei para a cara, e me aventurei a fazer o meu olho, pelo menos um. O olho, comparando com todo o resto que tinha feito, era o detalhe mais "escuro", então fui fazendo pequenos tracinhos bem próximos uns dos outros. Mas no olho tem um ponto branco de luz que reflete, então teve uma parte menos escura. E depois notei que mesmo o globo do olho não é tão branco quanto outras partes desenhadas, então preenchi também isso. Ah, e olheiras... claro

Fui para o cabelo, e fiquei um bom tempo fazendo. O cabelo é cheio de volumes, mas mesmo nesse volume há luzes e sombras, e aí fica às vezes mais difícil de diferenciar com as curvas.

A aula estava terminando e não tinha feito o outro olho, então só sugeri um pouco os óculos que tinham sido ignorados até então, e fiz alguns contornos do ambiente (mas que talvez eram dispensáveis...).

Constatação é que de fato fico séria quando estou concentrada. Difícil fazer auto-retrato sorrindo pois pressupõe uma ação que não é natural naquele momento.


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