Semana 29, desenho 191 - Garrafas mascaradas
Garrafas inspiradas em Diferença e Repetição, Deleuze e desenhos das garrafas de Morandi.
Texto de Berta Ehlrich:
Giuseppe Tomasi (1896- 1957), o príncipe de Lampedusa e escritor aristocrata, conhecido
sobretudo por ser o autor do romance Il gatopardo (O leopardo) magistralmente
adaptado ao cinema por Luchino Visconti (1906-1976)
é também o autor da formula da
impermanência da permanência, formula própria para ilustrar as misérias e as
glórias da aristocracia italiana retratada no seu livro:
“É preciso que tudo mude para que
nada mude”
Robert Bresson (1901-1999) e depois Jean-luc
Godard (1930) na sua “História do cinema” exploram a punchline lampedusiana para forçá-la a dizer a permanência da impermanência, servindo de adubo fertilizante no
processo de criação cinematográfica:
«Não mudes nada para que tudo seja
diferente”
Pedro Costa (1959) vai intitular então o
seu documentário de 2009 “Ne change rien” em referência a este aforismo.
Assim, ao seguir os caminhos
ambíguos que vão
da permanência à impermanência, as
vias da criação oscilam
entre diferença e repetição.
Todo o processo criativo realmente
vivo encontra-se tomado por estas aparentes contradicções.
O artista chinês tradicional, por exemplo, que desenha milhares de vezes o mesmo tema natural, e sempre enquanto obra independente e nova, ilustra este processo situado entre a repetição do tema e a diferença da obra.
Um artista,
entre outros, privilegia esta via da diferença na
repetição.
Trata-se de Giorgio Morandi, exilado da agitação do mundo,
recluso durante quarenta anos no seu quarto em busca das transformações que a
luz opera no seu quotidiano, artesão da paciência e do silêncio.
Este mesmo Morandi segundo o qual « Alguns
podem viajar através do mundo e nada dele ver. Para chegar à sua compreensão, é
necessário não ver demasiado
do mundo, mas
olhar bem aquilo que vemos.”
Heráclito, declarando há mais de 2000 anos que a cada
novo dia o sol é novo e que nunca nos
banhamos no mesmo rio, pode ser considerado
como o percursor desta visão altamente criativa da diferença na repetição, da
permanência e
da impermanência, através da
qual a arte persegue sempre o novo no mesmo, a epifania da vida quotidiana.
O estúdio de Morandi e suas garrafas....
Desenhos de Morandi abaixo :
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