Semana 27, desenho 186 - Símbolos inspirado em Odilon Redon


O exercício foi escolher, de maneira intuitiva, 4 desenhos do Odilon Redon para realizar uma composição pessoal numa mesma folha com carvão e miolo de pão. Em cada um dos segmentos, desenhei uma das imagens escolhidas (pegando fragmento, escala maior, etc). A ideia era procurar criar relações entre as diferentes imagens de um modo intuitivo e pessoal, explorando a carga simbólica das imagens e das possíveis correspondências entre elas. E variar as escalas de cada desenho, uns desenhos de um ponto de vista mais aproximado, quase abstracto, outros de um ponto de vista mais longínquo e completo.
No meu desenho, o que me chamava mais atenção eram os círculos dos desenhos de Redon e o uso do olho, então tentei brincar com isso.
Cada um dos quatro segmentos foi realizado em 4 fundos diferentes:
•Um fundo negro (não esbatido)
•Um fundo cinza intermédio (esbatido com papel)
•Um fundo branco
O quarto segmento foi deixado livre para o fim, esperando sentir o que era mais adequado (claro ou escuro).


Texto por Berta Ehlrich:

O sentido, esse graal da criação, pois nunca criamos jamais seja o que for que não resulte num maior nível de sentido, deve de ser considerado como o coração sempre vibrante da prática artística.
Lançar-se no caminho do processo artístico, desejar produzir uma obra, implica uma passagem, uma transição de um nível de sentido, o da realidade vivida, a um outro intensamente mais significante, o da emergência da obra de arte.
A genealogia do sentido, a busca da sua origem, conduz-nos a orientar-nos em direção ao símbolo.
Na sua origem, o termo “symbolos” era um termo grego. O símbolo significa o sucesso de um lançamento de rede. O lançamento de uma rede de pesca diz-se “Bolos” em grego antigo, o “symbolos” encarna portanto as bodas harmoniosas entre o lançamento da rede de pesca e as presas que este visa. Um símbolo é assim uma vitória, a união da armadilha e da presa que faz nascer o sentido.

Aprendemos assim através da etimologia, que o sentido nasce das bodas felizes de duas dimensões da realidade. Que é um efeito secundário do equilíbrio e da harmonia entre dois mundos. 

Acontece que o irmão inimigo do “symbolos” é o “diabolos”. O que nos informa sobre o mal, considerado sob o seu angulo estético. A carência de sentido profundo numa obra seria então de essência diabólica.


Desenho final


Processo

Inspiração em desenhos de Odilon Redon que trabalham simbolismo na obra

Considera-se que o artista Odilon Redon (1840-1916) é um ponta de lança desta corrente artística que chamamos de simbólica (pois que forma de arte poderia escapar a esta dimensão simbólica?).
O simbolismo é a procura de correspondências, a procura desenfreada de corelações que permitem o acesso a um nível de sentido superior ao das formas aparentes da realidade vivida e observada. O símbolo faz do artista um guia.
E só alcançamos o símbolo e a sua glória no termo de uma evolução. Neste sentido, a obra de Redon e o seu apego ao movimento do progresso, à evolução, deve ser tomado em conta.
Das suas primeiras obras “negras” com carvão até à explosão cromática do seu trabalho posterior, Redon persegue o sentido sondando a matéria, à procura deste germe espiritual, divino, que ela contém e que pede para eclodir no símbolo. A união da matéria, negra ao inicio e depois multicolor, e dos grãos espirituais possíveis que ela dissimula, produz então este sentido que os desenhos e as pinturas de Redon revelam. 

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