Semana 27, desenho 187 - Livro das memórias de família



Sempre quis desenhar em livros. 
A mãe me deu esse livro "as mulheres que correm com os lobos" e como a liz também tinha me dado ele, o tinha repetido. A mãe leu ele há 20 anos e o livro já está um pouco amarelado, então usei ele para o exercício de desenhar com fotos antigas. Usei o album que a mãe me deu de aniversário de 30 anos, e vou seguir esta série com mais desenhos depois.


“But I believe above all that I wanted to build the palace of my memory, because my memory is my only homeland”. Anselm Kiefer (1945), “As ordens da noite”, 1997

O desenho me reconfortou depois de um dia estressante, ao devolver o apartamento antigo....



Texto de Berta Ehlrich:

Na Odisseia, Homero invoca as musas para lhe narrarem as aventuras de Ulisses.  Para o primeiro dos grandes relatos fundadores do Ocidente, Homero apela a estas criaturas maravilhosas, ao mesmo tempo fontes de inspiração e filhas da memória. As musas são as filhas de Zeus e de Mnemósine (Mnemos qui significa memória em grego) e cada acto de criação requere a sua musa, a sua fonte de inspiração.
Temos aqui, nas raízes da nossa cultura, os atributos da criação artística figurados no símbolo da musa. Inspiração e memória.

O museu, o lugar das musas, será assim o refúgio da memória. Boltanski,  artesão infatigável da memória propõe para cada individuo de mais de 60 anos, a possibilidade de ter um museu inteiramente consagrado a si-mesmo.
A memória, ao esforçar-se ao lutar contra o esquecimento e o desaparecimento, condena-se ao falhanço, um falhanço irremediável pois o tempo destrói tudo. A arte, a criação artística, como uma Fénix, sempre pronta a renascer das cinzas do tempo.
Mas a arte, tal como Boltanski, lúcido, o sugere, não é uma tentativa vã de proteger as coisas, de as tirar das mandíbulas do tempo. Matamos as coisas ao querer conservá-las. Criar seria então entreter com a memória uma relação ambivalente. Condenada a falhar pessoalmente, (pois o tempo tudo devora) para triunfar tal a Fénix, universalmente.
Representando o que a memória e a inspiração (as musas) comandam, falho em conservar o que foi, mas consigo criar um espaço de relação com aqueles que contemplam a obra que sai da minha memória.
Falho em conservar o que foi, mas participo na concepção do que será. A mais verdadeira e a mais bela das memórias sendo aquela que transborda o intimo, o pessoal, para tocar o universal através da relação que a obra coloca como traço de união entre o artista e o resto do mundo.
"A grande coisa da arte é que nós só podemos falar de nós mesmos, mas que cada pessoa que contemple a vossa obra pense que ela é feita para ela”. (Boltanski, entrevista France-culture- Novembro 2019).






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